quarta-feira, 29 de outubro de 2014
Sentimento (Fado)
O frio mordia
naquela escura noite,
o meu corpo sentia
dor como um açoite
na minh’alma que gemia.
Era de saudade,
mais que do frio,
ou talvez ansiedade,
e eu estava tão sombrio
naquela escuridade.
Adormecida a noite,
os raios da alvorada
despontavam com afoite,
chegava a madrugada
depois de triste noite.
Ciclo de vida e do tempo,
após o breu, vem a luz,
a cantar ou em lamento
tudo em nós se traduz,
em modos de sentimento.
José Carlos Moutinho
*Reserv.direitos autorais*
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Ai, mundo
Porque te enfureces mundo
se o sol brilha a todo o instante,
porque gritas blasfémias
se a Lua a cada noite nos acalma
com a serenidade do seu manto?
Bem sei que por vezes tens razão,
está tudo transformado,
o que antes, era honra, hoje é vulgaridade,
a palavra que era como um certificado
hoje não passa de coisa sem valor,
a hipocrisia de antigamente era mais discreta
mas actualmente é acutliante e descarada!
Mesmo assim, mundo,
ainda temos a esperança ou ilusão
que volte tudo ao que era,
que a amizade seja tão sincera como dantes
e não tão falsa, como agora!
Anima-te, meu mundo
eu estou contigo,
pois não conheço outro mundo,
por favor, modifica-te
e deixa-me viver calmamente,
ainda que essa acalmia seja utópica!
Engana-me e diz-me que estou enganado
que penso erradamente,
e está tudo exactamente como sempre esteve!
Meu mundo, ou mundo do meu passado
não me grites,
fala comigo docemente,
convence-me de que a realidade que eu agora vivo,
é um sonho mau, um terrivel pesadelo
e tudo, mas tudo, está igual ao do outro tempo
e despertarei para a verdade
e que em boa verdade, esta verdade, é uma mentira!
Diz-me mundo louco, ou serei eu que estou louco!?
José Carlos Moutinho
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Se eu fosse pintor (Fado)
Se eu fosse pintor
pintaria uma tela
com as cores do amor,
do meu amor por ela
com a paixão em cada cor.
Mas eu não sou pintor,
creio que ela nem me quer
porque ela é uma linda flor,
eu nem jardineiro sequer,
sou somente um sonhador.
Continuarei a sonhar
porque o sonho é de cada um,
posso ser o que eu desejar,
é um direito a todos comum
deixem-me então sonhar.
Os sonhos serão utopia
que só o sonhador sabe,
podem ser de alegria
ou de algum amor que acabe
com saudade ou nostalgia.
José Carlos Moutinho
"Direitos autorais registados"
domingo, 26 de outubro de 2014
Ai...esta nostalgia de Angola
Ai…esta nostalgia sempre
presente em mim
do feitiço que se entranhou
na minha essência,
da minha Luanda de perpétua
saudade,
das memórias belas que
jamais têm fim,
das cores que dos meus
olhos, são ausência.
Dizia-se que quem bebesse
água do Bengo
ficaria eternamente preso
aquela cidade,
por isso em mim tenho este
doce dengo
que será meu companheiro
pela eternidade.
Ai… Luanda, minha querida
Luanda
foste a luz, a cor, o cheiro a minha vida,
hoje estás diferente, até te
chamam banda,
de qualquer modo,serás
sempre muito querida,
E não sejas vaidosa e
egoista, minha cidade,
porque a minha saudade e
grande nostalgia
moram no meu peito em
melancólica acuidade
por Angola, das vastidões verdes,
minha alegria.
Ai….Angola que me prendeste
profundamente,
jamais sairás do meu ser,
ainda que eu quisesse,
sinto-me por ti enfeitiçado
em doce sofrimento
hoje és livre, independente, talvez eu regresse.
José Carlos Moutinho
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Quando eu parti (Fado)
Era ainda um menino
quando deixei minha mãe,
segui meu destino
parti pra terras de além,
com a mente em desatino.
A Africa cheguei um dia
numa tarde de verão,
muita tristeza eu sentia
e anseio no coração,
minha aldeia eu já não via.
Porém linda era a cidade
que aos meus olhos se colou,
e com esta verdade
em mim tudo mudou
floriu a felicidade.
Luanda dos meus amores,
Sol da minha juventude
jardim de muitas flores
teu povo tem virtude,
és tela de belas cores.
José Carlos Moutinho
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
Mariposas loucas
Vendavais de nadas em vozes
roucas
sopram luzes apagadas pelos
breus,
são como mariposas que voam
loucas
e embora tentem, jamais
chegam os céus.
Voam, voam, sem procurarem
destinos.
são seres inúteis, vazios e
deslumbrados.
serve qualquer vitima para
seus desatinos,
abocanham como abutres, os
mais atinados.
Mas o sol e a lua desprezam
tudo isso,
continuam a iluminar este
mundo desvairado,
fazem de tudo para que
ninguém seja omisso
a fazer da amizade e da
honra, um tratado.
José Carlos Moutinho
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
Vozes caladas
Os sorrisos caiam no chão do
desassossego
E eram calcados pelas
sombras do medo,
Caminhavam vozes pelo
silêncio do vazio,
Acotovelando-se nas brisas
do céu sombrio.
Pulavam em pés descalços do
infortúnio,
Acutilando-se nas agudas
pedras da raiva,
Cobertas pelas núvens negras
de mau augúrio
E as chuvas gélidas mordiam
como saraiva.
Buzinas e sons alucinantes
ensurdecem
ouvidos moucos, comidos pela
fome e frio,
corpos torturados pelas
dores que padecem,
chão sem alvoradas,de cartão
negro, doentio.
Gritavam com suas vozes
caladas pela noite,
na escuridão da tristeza e
injustiça da vida,
o eco trazia-lhes o som
implacável do açoite,
que a ferida da alma, tão
profunda, não sentia.
Os crepúsculos eram como tardes
apagadas,
que lhes penetrava a
essência humana,
vagabundos da miséria de
sortes recusadas
a quem a vida lhes tem sido
tão tirana.
José Carlos Moutinho
terça-feira, 21 de outubro de 2014
Ó mar
Fala-me, ó mar dos teus mistérios
que em ti,escondes ciosamente,
terás certamente tesouros sérios
guardados no baú do teu ventre.
Quero de ti, ó mar, somente serenidade
aspirar em deleite o perfume da tua maresia
navegar-me nas tuas ondas com facilidade
ouvir teu marulhar como se fosse poesia.
Sentado na falésia dos meus pensamentos,
exorciso mágoas, traumas e desilusões,
penso-me timoneiro em vaga de lamentos,
capitão de sonhos em espuma de emoções.
José Carlos Moutinho
O cair da folha
Mudou o tempo, mudaram as
estações,
desta corrida sem parar, pelas
alvoradas da vida,
o cair da folha matizada pelo
estio, de partida,
é o presente que nos é
oferecido, sem emoções,
Mas tu, Outono, com tua
gentileza vieste a nós,
embora agitado por ventos e
chuvas intempestivas,
mas por culpa do verão morno
e instável, sem voz,
de dias sem sol e de
cinzentas tardes consecutivas,
Por isso Outono, vem doce,
calmo, sem agressão,
com o colorido das folhas
que atapetam o chão
e na tua acalmia serás o
encanto do nosso sentir,
quando te contemplarmos no
ocaso, a partir…
Gosto de ti, estação de belas
folhas matizadas,
admiro a delicadeza das tuas
folhas caducas
voando até ao chão como
andorinhas cansadas,
não gosto quando te zangas e
fazes coisas loucas…
Então com o cair da folha eu
me deixo fascinar,
quero na quietude da minha
essência te olhar,
imaginar-te pintada com as
cores da paleta de ilusão
e absorver a brisa que me
traz serenidade e emoção.
José Carlos Moutinho
domingo, 19 de outubro de 2014
Navegador solitário (Fado)
Pelo mar adentro
me aventuro sem temor,
sou marujo cem por cento
pelo mar tenho amor,
e as ondas eu enfrento.
Naveguei muitos mares
venci marés bravias,
não receio os azares,
busco auroras macias
e ocasos noutros lugares.
Com vento norte a soprar,
sobre vagas eu velejo,
sol reflecte sobre o mar
a ele peço um desejo
de ao horizonte eu chegar.
Solitário marinheiro
eu sou, de alma e coração,
meu amor é o meu veleiro
também a minha paixão
e o infinito o meu roteiro.
José Carlos Moutinho
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Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas
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