sexta-feira, 7 de abril de 2017

Ai, o Poeta




Ai, o poeta…

…pode ser fingidor,
dizer que sente o que realmente não sente,
pode ser imaginativo, inventando fantasias,
pode até criar dores, onde há alegria e sorrisos
dizer que existe felicidade
num campo de imensa tristeza!
O poeta pode, com suas palavras, pintar rios
em secos e inférteis campos,
sentir o perfume da maresia
onde o mar nunca existiu!

O poeta é mentiroso ou sincero...
pois o poeta é tudo isso e...nada,
pois é somente um criador
que ao deixar-se levar pelo sonho da poesia
permite-se ser dono da sua verdade,
que pode nem ser a verdade dos outros!

Ao poeta é praticamente permitido tudo
desde que use dignidade,
que jamais ofenda ou provoque quem o lê,
porque é para o leitor que ele escreve e respeita!

O poeta poderá ter uma mente em desvario
ou sentir a serenidade do bucolismo romântico,
ou até ser um eterno apaixonado, sem paixão,
pode também convictamente falar de amor,
sem que haja alguém na sua vida
tem todo o direito de ser positivo ou negativo
nos pensamentos que transmite para o poema!

Ai, ao poeta é-lhe admitido falar com nobreza
da solidão e dos silêncios
e estar rodeado por multidões,
dizer da dor que lhe comprime o peito
e sentir-se profundamente feliz!

E tudo porque o poeta é…
mentiroso, verdadeiro, fingidor?
Não! Porque o poeta é…
simplesmente Poeta.

José Carlos Moutinho

domingo, 2 de abril de 2017

Eu e o meu mar




Vou até ali
pertinho daqui
onde o mar me espera,
quero beber dele a serenidade,
aspirar-lhe o perfume da eternidade
e passear o meu olhar sobre o seu dorso…

Sei que ao contemplá-lo,
sentado numa das pedras da utopia
sentirei no meu peito a frescura da imaginação,
que, de vez em quando, se transforma em poema…
Nem me preocupa se é um bom poema
ou um grito da minha alma…

Nem sei sequer, o que é um bom poema
ou até se estes existem...
o que sei, isso posso afirmar,
é que o mar me seduz, me inspira
e escrevo inebriado pelo seu encanto misterioso
que me leva em devaneio até ao seu horizonte
onde ele se abraça ao céu azulado…

Então, feliz, fecho os olhos e navego…
Navego…

José Carlos Moutinho

segunda-feira, 27 de março de 2017

Dança no tempo





Sentei-me agora mesmo na quimera do tempo,
olho a rua vazia de emoções
através da vidraça embaciada da minha janela,
de onde posso ver o mundo,
pequeno mundo que me cerca…
e senti o frio da tarde cinzenta e lacrimosa
que invadiu o meu sentir
deixando-me desconfortável e pensativo!

Melancolicamente deixo o meu olhar vaguear
pelos verdes campos, onde árvores se agitam
ondulando elegantes ao vento…
Serenamente fecho os olhos,
imagino uma fascinante dança da natureza
e com os ramos faço passes de magia,
numa coreografia inventada no momento
em que o tango é o estilo que me apraz…
Outros ramos se juntam no salão do meu sentir,
num rodopiar silencioso, para o comum mortal
mas… para mim, tem toda uma sonoridade fantástica
e os passes de dança seguem-se num frenesim
de encantamento, até que abro os olhos…
E quando o meu olhar volta a vaguear pelo ocaso,
somente vejo a chuva cair,
ininterrupta
que me faz retornar à realidade
e do meu sonho, despertar…
Levanto-me da quimera do tempo, onde estive instalado
e fecho a janela,
cuja vidraça está, ainda mais, embaciada.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 23 de março de 2017

Tempo mediado




Entre o passado e o presente
há um mundo de magia
de encantos e desencantos,
tantos abraços se perderam
que por arrogância, não foram dados
e quantas amizades se deturparam
por desentendimentos fúteis,
quantos ventos nos ensinaram
que somos nada de tão insignificantes,
tantas brisas nos aconselharam
moderação nas atitudes,
quantos luares nos ofereceram serenidade
e tantas alvoradas nos mostraram
que a grandeza da luz está em nós!

Neste tempo que separa os dois tempos
houve de tudo:  dor, frustração
felicidade e infelicidade, alegrias e tristezas,
quantos gestos se escusaram
aos dias de generosidade,
tantos defeitos teimaram em prevalecer
em detrimento de nobres virtudes…

Tanto de tanto foi perdido
onde existia tanto de tanta grandeza
que sentimentos balofos ignoraram
e se engajaram por caminhos distorcidos!

Nada mais retornará do espaço
que medeia o passado e o presente,
além da história que tudo gravou
para que em qualquer momento,
qualquer segundo possamos recordar
e quiçá, se ainda for tempo
e o tempo de agora o permita,
aprender, reconhecer e arrepender,
para que o futuro seja enriquecido
pelos valores da dignidade e dos afectos.

José Carlos Moutinho


quarta-feira, 22 de março de 2017

Outros tempos



Eram mais floridos aqueles caminhos
Onde os meus pequenos pés habitaram,
Talvez porque fosse um tempo de carinhos
E por lá, os males do mundo não passaram

Tenho saudades, com alguma nostalgia,
Entendo porém, que os tempos mudam,
Temos de olhar as mutações com alegria
Porque a vida gira e tristezas não ajudam

Vivo cada dia com o que a vida me oferece
De nada me adianta eu discordar dela,
Ela só dá a cada um, aquilo que merece
Solidária com o tempo que voa pela janela

Pensando, levo-me serenamente a reflectir
Que existe em cada tempo um novo tempo,
Basta-nos contemplá-lo e com ele sorrir
De coração agradecido em cada pensamento



José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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