domingo, 9 de outubro de 2011

Quando se desafia o rio




Aquele rio é a delícia do povo, que a ele se dirige para o contemplar e relaxar.
As águas límpidas convidam a um mergulho refrescante.
Aquando do pôr-do-sol, os raios refletidos no seu dorso iluminam a suave penumbra que se avizinha.
As margens deste rio, cujas águas deslizam suavemente, estão repletas de palafitas que se equilibram sobre postes, desafiando a física, num equilibro duvidoso.
São os lares dos avieiros, em reduzidas condições de segurança e conforto. Chamar lares, aquelas lacustres barracas, é uma ironia que não deixa de entristecer.
É a realidade triste da pobreza.
O que para uns, é descanso e encantamento; Para outros, é a luta do dia-a-dia a labuta árdua em conseguir o sustento da família, naquelas águas que os alimentam quando do ventre daquela corrente aquática, há a vontade em os satisfazer.
Para estes pescadores, o ocaso é algo que lhes é alheio, porque determina o fim de um dia de trabalho, tantas vezes ineficaz.
Os canaviais estremecem com o sopro do vento invernal, que anuncia tormenta.
O pôr-do-sol esmorece no cinzento do tempo.
Chove. A chuva cai suave e ininterruptamente, primeiro; Depois em bátegas, que a cada minuto aumenta de intensidade. Agora tornou-se violenta esta chuva, quase diluvial.
O caudal pluvial, enche rapidamente o rio, tornando-o ameaçador e terrivelmente assustador.
As águas antes calmas, agitam-se agora em violentas ondulações. O rio engorda
Com as águas que poderão tornar-se assassinas. Transborda.
As palafitas afogam-se e os parcos pertences daqueles avieiros, navegam entre as tristes paredes de madeira rachadas pelas intempéries.
O vento uiva, penetra nas frinchas, provocando um silvo de alerta, para que os seus moradores fujam e que procurem a segurança da terra firme e seca.
O rio subiu, galgou as suas margens, perdeu o controle de si mesmo. Corre veloz, louco.
Arrasta tudo que lhe aparece. Barcos frágeis que se soltam das amarras e se despedaçam
Contra os pilares das palafitas, destruindo-as e arrastando-as na queda imersível nas águas revoltas.
Gente que grita, tentando com o pouco que têm.
E aqueles dias lindos de um pôr-do-sol cintilante, deu lugar à rebeldia das águas das chuvas torrenciais, que subjugaram a suavidade daquele rio, que deslizava suavemente.
É a natureza, na sua indignação, em resposta à provocação humana!

José Carlos Moutinho
7/10/11

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Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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