Lá fora o frio enregela as
folhas do Outono,
que vão caindo, no chão
molhado!
Nessas folhas estavam as
minhas recordações,
escritas, certo dia, com o
calor da paixão,
agora, caídas em absoluto
desamparo,
no charco das palavras
mortas,
onde serão afogadas as
minhas saudades
na água que as submergirá
no esquecimento do passado!
Espero que um milagre de
repente aconteça,
neste cosmos de incertezas,
e que das linhas traçadas
pela minha mão,
gravadas nas folhas secas e
encharcadas,
renasçam as minhas
recordações,
paridas das águas que o chão
molhado faz leito!
Mas sinto frio,
embora agasalhado, tenho
frio,
fecham-se-me as pálpebras,
estremece-me o corpo,
soluça-me o coração sem
fôlego,
chora-me a alma!
O frio penetra-me o âmago do
meu sentir,
tento aconchegar-me à
lembrança,
daquele amor, que ficou em
mim,
que não deixei escrito nas
folhas caídas!
É somente o que me resta!
José Carlos Moutinho
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