O céu transfigurara-se,
as trevas penetravam as
frestas das janelas,
ensombravam as paredes
imóveis
e criavam imagens
fantasmagóricas!
Nas ruas escurecidas
caminhavam pés descalços,
sangrando de dor,
da vida madrasta,
que não pediram!
A luz ténue soltava-se
tremulenta
dos candeeiros espantalhos
e colava-se nos corpos
deambulantes,
ansiosos pela alvorada da
alegria,
que lhes oferecesse a luz da
dignidade
…e esta demorava ou
escusava-se
na noite eterna e escura de
tristeza!
Parecia que o mundo desabava
sobre aquelas cabeças vazias,
de felicidade,
rosnavam os ventos,
assustadores
tornando o cenário dantesco,
voavam cartões camas,
desnudando corpos
empalidecidos,
e… os gemidos sofridos
calaram a noite!
Chegavam os raios cinilantes
da aurora tão desejada,
que penetrasse a alma dos
infelizes
e lhes desse o calor da
vida...
…e a aurora despertou
brilhante,
mas os filhos de um outro
deus
continuaram nas trevas,
da fome, do frio e na
escuridão da miséria.
José Carlos Moutinho
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