Não nasci em África,
mas em mim, nasce todos os
dias
o sol das alvoradas
tropicais,
que me enternece os sentidos
pelo por-do-sol matizado
de nuances vermelhas…
Entranhou-se no meu peito
o cheiro da terra molhada
e da brisa das tardes
quentes
que o cacimbo refrescava…
Colou-se nas minhas retinas,
agora cansadas,
o fantástico fulgor das
florestas densas
que eu percorri, com imensa
alegria
nas viagens da vida
em missão profissional…
Suspira-me a alma
na saudade do oscilar dos
ramos verdes,
que a esperança imbuída de
serenidade
me abraçava,
quando eu, no silêncio de
mim
e da paisagem bucólica que
me rodeava,
me aquietava no meio do nada,
isolado do mundo,
entregue ao meu pensamento
e ao sorriso da natureza…
Pela minha memória,
vai-se soltando o pó
vermelho
do chão duro, sem o negro
asfalto,
quando o vento me assoprava
nuvem matizada e opaca
obstruindo-me a caminhada
e me fazia parar…
numa simbiose sentimental
entre o deleite e o aborrecimento
da forçada suspensão de
viagem…
Era um outro mundo
pleno de vida e cor
de melodiosos sons e doces fragrâncias…
Era, e é, a África
portentosa,
Era Angola belíssima,
minha terra de coração,
meu desalento e tristeza
nesta saudade que me
atormenta,
nesta minha paixão que jamais
morrerá…
Angola, minha querida terra
vermelha,
chão feliz da vida
meu sentir dolorido,
Deixaste-me
ou, talvez tenha sido eu a
deixar-te…
Mas estarás sempre na minha
alma,
Até um dia…minha Angola!
José Carlos Moutinho
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