quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Aquele Fontanário


Não pude evitar a tristeza,
quando certo dia,
ao passar pelo local 
onde tantas vezes estive
e ver o estado decrépito
de morte atroz e lenta
daquele velho fontanário,
seco pelas amarguras do tempo,
que há muito, certamente,
deixou de debitar a cristalina água
que saciou tanta gente!


Olhei para o esqueleto daquela fonte,
emocionei-me, ao pensar
em quantas alegrias participou…
e que tantas foram as mágoas
choradas nas águas 
daquele fontanário, solidário!


Sentei-me nas pedras corroídas
pelas memórias dos amores 
que o fontanário conheceu,
dos segredos que lhe foram partilhados
e guardados na eternidade do seu silêncio,
das paixões exaltadas, 
abençoadas pelo fio de água
que deslizava pela sua airosa boca, 
e esfriava os ímpetos exacerbados dos amantes!


Agora, aquela fonte morria, 
inexoravelmente,
abandonada por todos…
ela que acolheu tantas confidências,
de paixões proibidas,
de promessas matrimoniais,
de desavenças descontroladas…
jazia ali, num silêncio constrangedor,
cercado por ervas daninhas,
num total e doloroso abandono!


Ah, tristeza…
Monumentos que se fizeram marcos,
onde os sentimentos foram vida, 
felicidade, paixão e amor,
acabarem assim…
como coisa inútil e insignificante…







José Carlos Moutinho

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Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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