Uma leitura de Susana Nogueira
O título “Amor e Guerra” avisa o leitor sobre a dualidade entre a harmonia e o conflito que se desenrola por todo o livro. Começamos por conhecer as famílias Almeida e Silva, Lemos, e Nogueira e Sá, entre Portugal e Angola da década de 60 do século XX.
O eixo principal do enredo centra-se na relação sentimental de Matilde Almeida e Silva e Rafael Lemos, ela enfermeira, ele engenheiro civil a cumprir o serviço militar em Angola. O terceiro foco é o médico Fausto Nogueira e Sá e a sua paixão por Matilde.
O amor indicado no título engloba os sentimentos não só entre os casais que se vão formando, como entre os membros das famílias e amigos, todos eles com relacionamentos quase oníricos. Os personagens são cordiais, benévolos e compreensivos entre si, anacrónicos se comparados com a sociedade atual. Ou será que é o sonho que os torna assim, distanciados de qualquer realidade?
Por sua vez, a guerra é exatamente o oposto desse mundo, o retrato do medo, do ódio e da ansiedade de não saber se vamos sobreviver mais um dia. Um conflito bélico paradoxal, “um país que vivia a dois tempos tão diferentes: um de paz, animação, alegria, bem-estar e felicidade, e um outro de terror, tiros, dores, gritos, guerra e morte”, nas palavras do autor.
Os cenários são a força desta história. As vívidas descrições das ruas de Luanda e da sua baía, a partilha dos seus aromas, usos e costumes proporcionam a descoberta de um universo mágico.
Do mesmo modo, os detalhes do pesadelo da guerra, dos ataques inesperados, da dureza das privações, da morte sempre a observar de perto, são tão assombrosos que a leitura quer-se apressar para sair o mais rapidamente possível da escuridão do mato e regressar à luz e generosidade de Luanda.
São essas as sensações que perduram no leitor, entre a batida quente do coração e o fulgor da raiva e da luta pela sobrevivência em combate. Num todo, esta é uma partilha de memórias, impressas nos sentidos e nos sentimentos. Escolhemos focar-nos no cheiro das acácias e da maresia da baía de Luanda, na sensação de humidade na pele, no churrasco com jindungo acompanhado pela cerveja Cuca, no olhar de felicidade das pessoas e na leveza do bem-viver.
Talvez seja essa uma das lições de Angola: aprender que se pode voltar sempre a esse cantinho de felicidade que fica marcada na alma. Ou não.
3 Perguntas a…
José Carlos Moutinho
1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Amor e Guerra»?
R-Digamos que representa o reviver um pouco, embora de modo ligeiro e sucinto, memórias esquecidas de um tempo de conflito armado, motivado pelo descontentamento do povo angolano para com a soberania colonial. Precisamente porque havia esse descontentamento dos povos de Angola desde os primórdios do século XX, tentei, usando como base esse conflito iniciado em 1961 e como personagem principal um militar mobilizado para Angola. Procurei criar histórias dentro de uma história, vividas com paixão, muita emoção e amor.
2-Qual a ideia que esteve na base deste romance?
R-Emoção. Sentimento profundo que nutro por aquela terra, levou-me a escrever sobre Angola, numa tentativa de mitigar a saudade que teima em permanecer em mim. Tentei descrever que, para além da guerra que se desenrolava lá longe, vivia-se em Angola uma paz, quiçá, enganadora, mas que nos fazia sentir viver num paraíso.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Neste momento quanto a romances, não tenho nenhum projecto em mente, embora tenha dois iniciados há algum tempo, mas que, parece-me, não terão muito caminho para andar. Assim, vou-me dedicando à poesia, escrevendo diariamente de modo quase obsessivo.
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José Carlos Moutinho
Amor e Guerra
Guerra e Paz 14€