domingo, 24 de julho de 2011

A subtileza da brisa





Tens nos gestos a subtileza da brisa,
Na tua voz a doçura melódica do murmúrio,
Timbre de excitante fascínio;
O teu olhar, brilho de estrelas cadentes,
Que me iluminam o meu sentir,
Penetrando fundo a minha alma!
As tuas mãos, ternura do êxtase, no afago,
Que me deleitam na carícia do teu desejo;
O calor do teu corpo, no abraço consentido,
Prazer enlouquecido pela razão que se vai;
O estremecer na vibração de nosso querer,
Pelos beijos que trocamos, leves como penas,
Que arrepiam os nossos corpos escaldantes,
Dilatam-se os poros, que se desidratam pela excitação;
Pensamentos que se perdem no nada,
O irracional, ocupa o trono do racional;
Apertados num só corpo, excitam-se dois corações,
No murmurar das nossas almas
E na vontade de nos sentirmos.

José Carlos Moutinho

sábado, 23 de julho de 2011

Somália




Nuvens infindáveis compactas de pó
Do sangue de um povo;
Chão gretado,
Pela ausência da chuva que morreu;
Secura de uma terra, pátria
Seca pela vida e pela humanidade;
Gente que vagueia, como zombies,
Corpos esquálidos, cambaleantes
Embriagados pela míngua;
Olhos desorbitados pela indiferença,
Dos que os culpam por terem nascido;
Barrigas dilatadas pela fome,
Povo agredido e mutilado
Pela injustiça no mundo,
E pelos senhores da guerra,
Gente da mesma gente,
Alheios aos necessitados;
Crianças transmutadas em velhos;
Gente que se mata mutuamente
Para obterem nada…
Ódios entre iguais
Pela sobrevivência;
Terra morta, abandonada;
Corno de fera acossada,
De um continente torturado,
Corno de África;
Terra sem lei, nem vida
Somália…
Onde morrem, como insectos
E vivem pior que vermes;
Gente que morre no nascer!
Que mundo é este?

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Pensamentos




Penso-te em momentos passados
De horas esquecidas
Em ausências adormecidas;
Melodias emudecidas pelas folhas caídas,
De pensamentos sofridos em noites perdidas;
Vejo-te no alvorecer, como nuvem opaca
Estrangulada pela ânsia do meu querer!
Mar agitado, das ondas da minha solidão,
Escurecidas pelo breu do luar que não nasceu;
Pálidas vontades de instantes entorpecidos,
Pelo desencanto da luz que se apagou!
No beijo que não fecundou,
Na tua boca que se fechou;
Escorres-me pelos dedos, como chuva seca,
Agrides-me a alma com a secura do teu silêncio,
Feres-me na tua insensível presença,
Gritas-me no vento que me passa,
Turvas-me as pupilas com o teu olhar!
Agora, serei a brisa que me leva no voo da indiferença
E encontrarei o meu esquecer em ti.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Acaricio as tuas palavras




Sentado à beira deste mar azul, sem pressa
No tempo e me delicio nas cores do pôr-do-sol;
O murmúrio do vento nas águas que me banham os pés
Falam-me de ti,
Das palavras que me querias dizer!
Faço do meu pensamento,
A ponte que me leva a ti;
Trago-te nas tuas imagens,
Que entram em mim
E sinto o teu beijo, que atravessa o vazio
E me preenche do néctar do teu amor!
Afasto as margens da minha solidão,
Acentuada pela muralha da tua ausência
E vejo no brilho das estrelas o teu sorriso!
Abro o baú das minhas memórias,
Acaricio as tuas palavras,
Beijadas no branco papel
E abraço a alegria dos sentidos,
Entre nós transmitidos:
Revivo, desperto, relembro
E deixo-me transbordar na minha felicidade.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Porque não existias




Levo-me por esta estrada sem margens
Em busca do nada;
Carrego sonhos por sonhar;
Vislumbro no horizonte uma luz ténue,
Do crepúsculo que caminha até mim,
Na linha da estrada sem fim;
Lembras-me tu, em forma celestial,
Mas é somente a ilusão do imaginário,
A tua imagem surge, despida
Num nu estonteante,
Maravilhosamente deslumbrante,
Que me faz esquecer a minha caminhada,
Por esta estrada sem fim e de luz ténue,
Porque de repente tudo se iluminou
Com a visão do teu corpo;
Seria o tal sonho por sonhar
Ou delirava, pela busca do nada;
Talvez ambos,
Ou porque a minha mente desatinava
E deixei-me embalar em pensamentos
Quiméricos, devassos talvez,
Mas numa sensação de um sentir
Nunca antes sentido,
Mas secretamente desejado
E tantas vezes imaginado!
E de repente ali estavas tu, qual ninfa
Esbelta e provocantemente doce
Longe de mim e eu sem poder te tocar
Porque não existias!

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

Ver esta publicação no Instagram

Live Planeta Azul Editora

Uma publicação partilhada por Planeta Azul Editora (@planetazuleditora) a