Quantas vezes me vejo por
ai, sem destino,
a pensar na vida que em mim
desliza,
fico apreensivo pois
raramente atino,
da razão de haver tanta
gente sem camisa.
Pior que falta de camisa é o
rosto que chora,
lágrimas de sangue de olhos
turvos,
clamando pela esperança que
demora
e pela fome que os torna
curvos.
Acabo por me sentir um ser
feliz,
pois esse flagelo não me
tocou ainda,
sempre fiz na vida tudo o
que quis,
por isso eu acho esta vida
linda.
Compadeço-me porém, dos
seres sofredores,
que não têm teto, nem pão,
nem amor,
vieram ao mundo como
perdedores,
desta sociedade onde impera
o rancor.
José Carlos Moutinho