quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Mundo de rancor





Quantas vezes me vejo por ai, sem destino,
a pensar na vida que em mim desliza,
fico apreensivo pois raramente atino,
da razão de haver tanta gente sem camisa.

Pior que falta de camisa é o rosto que chora,
lágrimas de sangue de olhos turvos,
clamando pela esperança que demora
e pela fome que os torna curvos.

Acabo por me sentir um ser feliz,
pois esse flagelo não me tocou ainda,
sempre fiz na vida tudo o que quis,
por isso eu acho esta vida linda.

Compadeço-me porém, dos seres sofredores,
que não têm teto, nem pão, nem amor,
vieram ao mundo como perdedores,
desta sociedade onde impera o rancor.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Navegando pela memória





A minha canoa de memórias ainda navega
Por aquela tarde de verão, de sol esmorecido,
no mar de uma emoção de total entrega,
do amor que um dia, na praia, havia nascido.

Lembrar o passado pode ser nostálgico,
mas se há lembrança, existiu alegria,
neste contexto tudo me parece lógico,
por isso lembrei-me fazer esta poesia

Os olhos dela tinham encanto que fascinava,
de negras íris, como a bela turmalina,
quando na rua caminhando, ondulava,
na espuma das ondas da minha adrenalina.

Os seus longos cabelos negros de azeviche,
esvoaçando ao sabor das velas da minha ilusão,
deixavam-me extasiado, como se fosse fetiche,
deslizando ao sabor do vento da minha paixão.

A minha memória recusa-se apagar esta história,
que marcou os trilhos da estrada da minha vida,
aquela mulher será para sempre, a minha glória,
gravada em poesia de felicidade sentida.

José Carlos Moutinho

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Desencantos





Do alto da minha janela, deixo o meu olhar cansado,
vaguear pelos campos secos, de amarguras cultivadas,
onde antes existia o verde da esperança,
resta o restolho da tristeza plantada!
Desvio os meus olhos desta imagem desapiedada,
abraço com o meu olhar, o rio, plácido no deslizar de suas águas,
onde os desalentos se refletem no dorso das desilusões,
outrora caudais de glórias que inundavam almas bravias
de gentes altivas de valores consagrados!

Os tempos mudam...
As águas correm indiferentes,
o sofrimento é pertinaz!
As emoções são outras, intempestivas,
a razão é coisa estranha,
deturpada pela vaidade e presunção!

Semicerro os meus olhos extenuados
pelo cinzento do infinito, de nuvens negras,
brumas que ofuscam um tempo que não volta
e nos atrofiam este viver desassossegado!

Definitivamente cerro os olhos,
deixo de olhar
não desejo ver mais nada...
Quero apagar a imagem deste mundo
e deste tempo de agora...
E penso-me na ilusão de um outro viver,
de tons encantados, onde o sol seja o sorriso
e o luar a felicidade,
onde não exista a escuridão torpe
deste desatino que nos é fadado!

José Carlos Moutinho

domingo, 14 de outubro de 2012

O meu chão





Por este chão que eu piso,
que me suporta as mágoas e alegrias
desta vida feita de sangue, suor e amor,
de cheiros de belas flores
da esperança de novas vidas
eu caminho, grato, sentindo o seu pulsar!

Tento inventar palavras para este chão,
que me acolhe nos momentos de desilusão,
me abraça na minha tristeza,
me sorri na minha alegria e felicidade
e só encontro uma, simples,
porém, bem significativa do seu valor
És MAGNIFICO, chão,
pelo que ofereces a este mundo,
que te olha e pisa sem consideração
e tu graciosamente retribuis,
o pão da vida, o vinho da comemoração,
os perfumes das flores que encantam
as árvores que nos refrescam,
com a magnitude das suas sombras!

És o chão, onde cansado me deito,
serás no juízo final, o meu leito
onde farei de ti, o meu companheiro,
na eternidade do meu sono derradeiro!

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Serei eu poeta?





Sem querer ser piegas mas sincero,
quando tanta poesia leio por aí,
confesso, se ser poeta eu quero,
insisto e vou ficando por aqui.

Tento fazer belos e doces versos,
que me deixem feliz no seu criar,
são alguns instantes dispersos,
se a minha alma decide cantar.

Não desistirei e vou em frente,
mesmo com resultado negativo,
mostrarei que eu sou persistente!

Se em poesia não for convincente,
tentarei na prosa ser mais ativo,
mas nunca serei um desistente!

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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