segunda-feira, 9 de abril de 2018

O entardecer da vida





Quando o entardecer da minha vida
se aproximar do final da minha estrada,
quero partir abraçado aos versos do último poema
que eu tenha estado a pintar com derradeiras palavras…

e, se o tempo não me der a oportunidade de o completar,
peço aos amigos que, eventualmente,
estejam junto de mim, que o façam
e o leiam depois, para que eu o sinta,
no calor da vossa presença,
apesar da minha imobilidade física
estarei presente em pensamento!

Acredito sinceramente que irei encontrar por lá,
pelo infinito desconhecido, alguma outra tertúlia,
onde, talvez, a poesia seja entendida
de uma forma mais simples,
sem protagonistas privilegiados,
sem classes sociais,
sem nenhuma exposição favorecida,
todos serão iguais, onde somente se diferenciará a qualidade
porque essa será sempre inquestionável,
tanto na Terra,
como no Além.

José Carlos Moutinho

domingo, 8 de abril de 2018

Esta Saudade que dói



Ai esta saudade
que me turva o pensamento
e me dói na alma...
Não entendo porque a nostalgia
me escurece a visão,
se o sol brilha no firmamento
e porque razão a melancolia
entra em mim como vendaval frio,
em tempo de acalmia...

Ai, esta saudade que me apoquenta
e me comprime o peito
na lembrança dos caminhos coloridos
e do pó vermelho da minha alegria,
dos longes que eu percorri
que se tornaram perto de mim
quando os conheci,
do som melancólico e melodioso do batuque
e do choro do quissanje
em noites vestidas de breu...

Ai, esta saudade que me transporta à lonjura
deste meu viver,
e recua ao tempo irreverente
da minha felicidade e rebeldia,
das prosápias de adolescente
e das paixões assolapadas...

Ai, esta saudade que agora me persegue
com a acuidade do tempo perdido
por onde certamente não mais passarei
mas que obriga a minha mente
à saudosa dor de a recordar eternamente
pelo sol matizado e único do pôr-do-sol
do miradouro da luz…

Ai, esta saudade
que me castiga pela ausência
das tépidas águas das praias da minha juventude
quando Luanda, como mãe
me abraçava carinhosamente
e as acácias floridas de vermelha cor
me abrigavam dos amores não correspondidos…

Ai, esta saudade que me dói
só de pensar que sinto saudade…
Quero voltar a ti, terra dos meus encantos,
que me acolheste certo dia, de Verão
e me ofereceste alegremente o teu coração…

Depois…
Deixei-te, Angola querida
um certo dia, que não era Verão,
fui forçado a abandonar-te,
deixei, porém, o meu coração
juntamente com minha alma,
naquela velha mulembeira
plantada na rua das missangas

José Carlos Moutinho
30/3/18

sábado, 7 de abril de 2018

Tempo inocente



O tempo de juventude inocente
passou tão rápido como o meu rio
de água calma levada p’la corrente
que eu contemplava em dia de desvario…

Ficou a saudade que o tempo guardou
numa caixinha dentro do meu peito,
quando volto ao rio que me segredou
suspiros de amor, sinto o mesmo efeito!

Pode ser surreal este sentir
no pensamento de quem o quiser,
a mim só fica o que mais me aprouver…

Recordações que não quero omitir,
instantes felizes do meu passado
que pela minha viagem, fui agraciado.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Será poema ou coisa nenhuma

Despi as palavras
quis vê-las nuas perante os leitores,
e, se alguém houver que se escandalize com sua nudez,
que as vista,
para que eventualmente percam o pudor
se alguma vez o tiveram,
o que sinceramente não creio,
pois as palavras na sua singeleza
são puras e ingénuas...

A haver maldade e falso pudor
encontrar-se-ão somente na mente
de quem as assim as vê,
e que, talvez, sei lá, ache que com a sua repulsa
purifique o próprio pensamento deformado!

E as palavras à minha revelia,
foram vestidas, umas, ridicularizadas outras,
o verbo deixou de existir,
feneceu o sentido do poema.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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