sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Quando eu parti (Fado)


Era ainda um menino
quando deixei minha mãe,
segui meu destino
parti pra terras de além,
com a mente em desatino.

A Africa cheguei um dia
numa tarde de verão,
muita tristeza eu sentia
e anseio no coração,
minha aldeia eu já não via.

Porém linda era a cidade
que aos meus olhos se colou,
e com esta verdade
em mim  tudo mudou
floriu a felicidade.

Luanda dos meus amores,
Sol da minha juventude
jardim de muitas flores
teu povo tem virtude,
és tela de belas cores.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Mariposas loucas





Vendavais de nadas em vozes roucas
sopram luzes apagadas pelos breus,
são como mariposas que voam loucas
e embora tentem, jamais chegam os céus.

Voam, voam, sem procurarem destinos.
são seres inúteis, vazios e deslumbrados.
serve qualquer vitima para seus desatinos,
abocanham como abutres, os mais atinados.

Mas o sol e a lua desprezam tudo isso,
continuam a iluminar este mundo desvairado,
fazem de tudo para que ninguém seja omisso
a fazer da amizade e da honra, um tratado.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Vozes caladas





Os sorrisos caiam no chão do desassossego
E eram calcados pelas sombras do medo,
Caminhavam vozes pelo silêncio do vazio,
Acotovelando-se nas brisas do céu sombrio.

Pulavam em pés descalços do infortúnio,
Acutilando-se nas agudas pedras da raiva,
Cobertas pelas núvens negras de mau augúrio
E as chuvas gélidas mordiam como saraiva.

Buzinas e sons alucinantes ensurdecem
ouvidos moucos, comidos pela fome e frio,
corpos torturados pelas dores que padecem,
chão sem alvoradas,de cartão negro, doentio.

Gritavam com suas vozes caladas pela noite,
na escuridão da tristeza e injustiça da vida,
o eco trazia-lhes o som implacável do açoite,
que a ferida da alma, tão profunda, não sentia.

Os crepúsculos eram como tardes apagadas,
que lhes penetrava a essência humana,
vagabundos da miséria de sortes recusadas
a quem a vida lhes tem sido tão tirana.

José Carlos Moutinho

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Ó mar



Fala-me, ó mar dos teus mistérios
que em ti,escondes ciosamente,
terás certamente tesouros sérios
guardados no baú do teu ventre.

Quero de ti, ó mar, somente serenidade
aspirar em deleite o perfume da tua maresia
navegar-me nas tuas ondas com facilidade
ouvir teu marulhar como se fosse poesia.

Sentado na falésia dos meus pensamentos,
exorciso mágoas, traumas e desilusões,
penso-me timoneiro em vaga de lamentos,
capitão de sonhos em espuma de emoções.

José Carlos Moutinho

O cair da folha





Mudou o tempo, mudaram as estações,
desta corrida sem parar, pelas alvoradas da vida,
o cair da folha matizada pelo estio, de partida,
é o presente que nos é oferecido, sem emoções,
Mas tu, Outono, com tua gentileza vieste a nós,
embora agitado por ventos e chuvas intempestivas,
mas por culpa do verão morno e instável, sem voz,
de dias sem sol e de cinzentas tardes consecutivas,
Por isso Outono, vem doce, calmo, sem agressão,
com o colorido das folhas que atapetam o chão
e na tua acalmia serás o encanto do nosso sentir,
quando te contemplarmos no ocaso, a partir…
Gosto de ti, estação de belas folhas matizadas,
admiro a delicadeza das tuas folhas caducas
voando até ao chão como andorinhas cansadas,
não gosto quando te zangas e fazes coisas loucas…

Então com o cair da folha eu me deixo fascinar,
quero na quietude da minha essência te olhar,
imaginar-te pintada com as cores da paleta de ilusão
e absorver a brisa que me traz serenidade e emoção.

José Carlos Moutinho

domingo, 19 de outubro de 2014

Navegador solitário (Fado)



Pelo mar adentro
me aventuro sem temor,
sou marujo cem por cento
pelo mar tenho amor,
e as ondas eu enfrento.

Naveguei muitos mares
venci marés bravias,
não receio os azares,
busco auroras macias
e ocasos noutros lugares.

Com vento norte a soprar,
sobre vagas eu velejo,
sol reflecte sobre o mar
a ele peço um desejo
de ao horizonte eu chegar.

Solitário marinheiro
eu sou, de alma e coração,
meu amor é o meu veleiro
também a minha paixão
e o infinito o meu roteiro.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Voltar atrás no tempo (Fado)



No tempo de outro tempo
de sonhos inventados,
sem dor nem lamento,
muitos beijos molhados
na força do sentimento.

Juventude atrevida
sem pensar no amanhã,
viver de forma activa
e acordar pela manhã
na pujança da vida.

Ai que saudade eu tenho
daquela linda morena,
memoria que eu retenho
da mulher doce e pequena
que em mente eu desenho.

Pudesse eu atrás, voltar,
pisar a areia da praia,
mergulhar naquele mar,
cantar com a tal catraia
poemas do verbo amar.

José Carlos Moutinho
 

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

Ver esta publicação no Instagram

Live Planeta Azul Editora

Uma publicação partilhada por Planeta Azul Editora (@planetazuleditora) a