segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Febril loucura





Apetece-me escrever sem parar
numa avidez febril de loucura,
as palavras baralham-se no ar
buscando uma assertiva postura.

São trapalhadas sem nenhum nexo
que vão desfilando p’lo alvo papel,
não sei se sou eu que escrevo ou o reflexo
da minha mente, que corre em tropel.

Afáveis, as letras fazem poema
cantando o amor em tão belo tema,
que acalma o meu desejo de escrever…

Olho fascinado aqueles versos
que de mim se soltaram dispersos,
fico feliz sem a razão saber…

José Carlos Moutinho

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Mar que me marulha





Navego serenamente nas águas
deste mar imenso que marulha em mim,
escondo nas ondas as minhas mágoas
para que não precipitem o meu fim.

Faço remos com a minha coragem,
deixo-me ondular ao sabor do vento,
dos reflexos do sol, teço miragem
e lá vou eu pelo mar a meu contento.

Meu peito enche-se de belas fantasias
na ânsia do porto de abrigo de alegrias,
navego-me feliz contra vendavais…

A vida é chorar é sorrir é cantar
num tenaz oscilar sobre ondas do mar,
quero um dia fundear na acalmia do meu cais…

José Carlos Moutinho

sábado, 7 de fevereiro de 2015

O mundo em desvario




Há murmurios e muitos queixumes,
Gritam dilacerantes, os ventos,
Há escombros e muros e tapumes
Ecoam pelos ares, os lamentos.

Mundo louco este, em total desvario,
Crianças nascem, morrem, sem viver,
Males que vêm do nada, do vazio
Sol apagado p’la dor de sofrer.

Barbárie que em nome de Deus, mata
nem o mais inocente humano escapa,
Ganância despudorada fatal…

Tornada importante fazendo o mal…
Perderam-se todos os valores
A vida é luta sem vencedores.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Fogo que não se vê





Escuto no meu peito o crepitar
de um fogo, que não vejo mas arde,
lava que desliza e teima em queimar
não me permite sequer que a apague.

Será ilusão de algum pensamento,
ou quiçá a saudade que sufoca
querendo mostrar o seu lamento
com este vulcão que em mim coloca.

Só sei que o meu peito está dorido,
a razão ou razões eu desconheço
verdade é que não encontro motivo…

Só me resta aceitar este sofrer
que por alguma causa eu mereço,
talvez alguém me possa socorrer…

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

De Angola guardo em mim



Penso-me cidadão deste mundo
Viajado por remotos lugares,
Conheci de Angola, o mais profundo
Das savanas aos belos palmares.

Do encanto dos seus rios, ficou a imagem,
O pôr do sol colou em mim nostalgia,
A flora e a fauna são uma miragem
A terra vermelha não era utopia.

Tenho em minha memória, gravadas
As areias finas e brancas das praias,
As cores de acácias perfumadas
E o gosto delicioso das papaias.

As cubatas de adobe, tipicas,
Obras de arte singela de um povo
Labirintos de ilusões misticas
Contidas nos musseques num todo.

Embora fascinante este olhar
Era a pobreza na sua condição,
Cores vivas d’ áfrica em seu pulsar
Vermelho de sangue do duro chão.

Recordo das mulheres o  penteado
Artístico eterno, inalterável,
Aqueles cheiros p’lo ar perfumado
De terra molhada, inolvidavel.

Ah…como era tão doce a melodia
Do pregão das quitandeiras p’la rua,
Quitandas à cabeça, em correria
Calcorreando a cidade, vida crua.

Havia alegria, vivia-se cada dia,
Uns com mais, outros com muito menos
Tais diferenças em assimetria
Das sociedades em que vivemos.

Mas dentro de mim, só quero guardar
O que de bom Angola m’ofereceu,
O azul eterno do seu lindo mar
E as cores, os cheiros que Deus lhe deu.

José Carlos Moutinho
4/2/15

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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