quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Escusa-se o poema





Nega-se a mão a desenhar o pensamento,
escusa-se o poema à vontade da inspiração,
ausentam-se os versos à seara da criação
dando lugar ao fracasso da colheita
de uma provável e bela escrita lírica…
ou até do florir de um singular jardim
de simples metáforas coloridas
abraçadas ao sentir bucólico das cores...

...Mas tudo se confunde num misticismo
que se entranha no mais profundo da sua alma
e lhe entrava os gestos da mão que escreveria
e cala a voz do coração que se lamenta
pela incapacidade de soltar as amarras…
Amarras que os prendem às margens do absurdo
e não lhes permite navegar...
Navegar pelas palavras plantadas,
onde o joio não cerceasse o sentido
e o desejo de inventar o poema.

José Carlos Moutinho

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Ânsia incontida





Fugiam p’los meus dedos
vontades do  meu sentir,
eram mágoas e medos
torturas do meu carpir

Chora triste a minha alma
a ilusão do sonho ido,
nada mais me acalma
nesta vida sem sentido

Vagueio a melancolia
pelas ruas da saudade,
no breu da minha agonia
escondo esta realidade

Abraço-me à esperança
dos sorrisos da vida,
tem a cor de mudança
a minha ânsia incontida

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Escuridão da vida





As pedras da calçada são espinhos



nascidos das flores secas da miséria,



plantadas em jardim de infelicidade!



Neste chão duro, onde dormem os sonhos,



empedernidos pelo vento da tristeza



e onde se encolhem petrificados pelo frio



os corpos de vivos mortos,



perdidos pelos caminhos do nada!







São companheiros desta desgraça,



cães esquálidos como eles próprios,



que se aquecem mutuamente



empastados pela sujidade que os enegrece!







Quantos desses seres, vagabundos da sorte,



tiveram um dia um lar reconfortante 



e o afecto da família e amigos…



E hoje, abandonados pelo destino,



ou talvez tenha sido o destino escolhido,



são seres vivos sem vida,



são zombies deambulantes sem presente



por caminhos sem futuro!







E as pedras da calçada, são o leito



o leito de um rio de sangue,



lar de desgraçados,



ninho de gente devorada por parasitas



e de pele enrugada pela imundice…







Pobre gente que se deixou cair



por infelicidade ou vontade própria



na escuridão da vida.







José Carlos Moutinho

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Equilíbrio mental





Andei por caminhos que se distanciavam de mim,



evitei atalhos que sorrindo me chamavam,



encontrei pontos de equilíbrio no vazio,



recusei alegrias inventadas,



segurei-me a ramos suspensos



agitados pelo sopro da ventania,



e fiz-me caminhante com destino traçado,



rumo a um imaginado porto de abrigo



que me trouxe a serenidade



que me vai iluminando o futuro,



apagando as mágoas escondidas



no âmago do meu sentir!







Minha caminhada é calma,



desvio-me da acutilância das palavras,



faço ouvidos moucos às tempestades,



sorrio-me aos relâmpagos da ignomínia



ignoro os murmúrios cinzentos



da invidia brisa,



pois vejo nas estrelas a luz do  horizonte



da minha realização pessoal.







José Carlos Moutinho

sábado, 21 de novembro de 2015

Poema que nunca foi meu




É na solidão que eu me encontro
e me invento através do silêncio
pelas palavras que descubro dentro do meu sentir
e lhes falo docemente, pintando-as no papel branco,
imaginando-as a mais bela tela da minha emoção,
transformo o alvo papel em paleta de múltiplas cores,
vou retirando uma a uma delicadamente
e crio palavra após palavra que se vão aconchegando
no meu anseio de poeta…

E as palavras tomam a forma do meu querer,
rimam nos versos que vão surgindo
como que por arte mágica
e fazem-se metáforas de sentimentos,
agrupam-se em estrofes de sensações
que bailam livres aos olhos de quem as lê
e fazem delas o poema dançado pela melodia
que lhes penetra fundo na alma
e pensam seu, o poema
que eu acabei de criar e já não é meu.

Observo a satisfação de quem o leu
E sorrio, feliz e realizado
Por transmitir um sentimento
em mim latente, para o/a leitor/a
o absorver com a ânsia do seu coração.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Não me grites, ó vento



Por que me gritas tu, ó vento norte
Se eu, aqui no meu silêncio, te escuto,
Não me sopres, descontrolado assim,
Acalma-te, bem sei da tua bravura
E de nada adianta te exaltares
Por que de repente, tão de repente
te fazes suave brisa…
Sente a dor das folhas das árvores
Que se agitam com a tua fúria,
Escuta o silêncio das vozes das aves
Que se calaram apavoradas com tua raiva!

Entendes-me agora, ó vento
Por que te prefiro calmo
No teu soprar refrescante de Outono
Ao teu invernoso e obstinado vendaval?

Quando te acalmares, ó vento frio
Vem aconchegar-te aos pés do meu sentir,
Estarei à tua espera,
Serás meu companheiro na solidão
Que me fez esconder do teu sibilar…
E juntos na serenidade da tua acalmia,
Cantaremos em uníssono
Melodias nostálgicas de saudade,
A saudade do teu soprar refrescante
Quando te vestias de acariciante brisa
Nas tardes quentes de verão.

José Carlos Moutinho​

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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