Sentei-me agora mesmo na
quimera do tempo,
olho a rua vazia de emoções
através da vidraça embaciada
da minha janela,
de onde posso ver o mundo,
pequeno mundo que me cerca…
e senti o frio da tarde
cinzenta e lacrimosa
que invadiu o meu sentir
deixando-me desconfortável e
pensativo!
Melancolicamente deixo o meu
olhar vaguear
pelos verdes campos, onde
árvores se agitam
ondulando elegantes ao vento…
Serenamente fecho os olhos,
imagino uma fascinante dança
da natureza
e com os ramos faço passes
de magia,
numa coreografia inventada
no momento
em que o tango é o estilo
que me apraz…
Outros ramos se juntam no
salão do meu sentir,
num rodopiar silencioso, para
o comum mortal
mas… para mim, tem toda uma
sonoridade fantástica
e os passes de dança
seguem-se num frenesim
de encantamento, até que
abro os olhos…
E quando o meu olhar volta a
vaguear pelo ocaso,
somente vejo a chuva cair,
ininterrupta
que me faz retornar à
realidade
e do meu sonho, despertar…
Levanto-me da quimera do
tempo, onde estive instalado
e fecho a janela,
cuja vidraça está, ainda mais,
embaciada.
José Carlos Moutinho