As pedras da calçada são
espinhos
nascidos das flores secas da
miséria,
plantadas em jardim de
infelicidade!
Neste chão duro, onde dormem
os sonhos,
empedernidos pelo vento da
tristeza
e onde se encolhem
petrificados pelo frio
os corpos de vivos mortos,
perdidos pelos caminhos do
nada!
São companheiros desta
desgraça,
cães esquálidos como eles
próprios,
que se aquecem mutuamente
empastados pela sujidade que
os enegrece!
Quantos desses seres,
vagabundos da sorte,
tiveram um dia um lar reconfortante
e o afecto da família e
amigos…
E hoje, abandonados pelo
destino,
ou talvez tenha sido o
destino escolhido,
são seres vivos sem vida,
são zombies deambulantes sem
presente
por caminhos sem futuro!
E as pedras da calçada, são
o leito
o leito de um rio de sangue,
lar de desgraçados,
ninho de gente devorada por
parasitas
e de pele enrugada pela
imundice…
Pobre gente que se deixou
cair
por infelicidade ou vontade
própria
na escuridão da vida.
José Carlos Moutinho