quinta-feira, 19 de novembro de 2015
Não me grites, ó vento
Por que me gritas tu, ó vento norte
Se eu, aqui no meu silêncio, te escuto,
Não me sopres, descontrolado assim,
Acalma-te, bem sei da tua bravura
E de nada adianta te exaltares
Por que de repente, tão de repente
te fazes suave brisa…
Sente a dor das folhas das árvores
Que se agitam com a tua fúria,
Escuta o silêncio das vozes das aves
Que se calaram apavoradas com tua raiva!
Entendes-me agora, ó vento
Por que te prefiro calmo
No teu soprar refrescante de Outono
Ao teu invernoso e obstinado vendaval?
Quando te acalmares, ó vento frio
Vem aconchegar-te aos pés do meu sentir,
Estarei à tua espera,
Serás meu companheiro na solidão
Que me fez esconder do teu sibilar…
E juntos na serenidade da tua acalmia,
Cantaremos em uníssono
Melodias nostálgicas de saudade,
A saudade do teu soprar refrescante
Quando te vestias de acariciante brisa
Nas tardes quentes de verão.
José Carlos Moutinho
terça-feira, 17 de novembro de 2015
Sol e Mar da minha saudade
Enquanto eu contemplava o sol
que se ia escondendo no horizonte
levando a sua luz ao outro lado do mundo,
eu ia refrescando os meus pés
nas tropicais e cálidas águas da minha juventude
e deixava o meu olhar navegar silenciosamente
sobre o dorso espelhado pelo sol,
daquele mar azul-esverdeado,
que tantas vezes acolheu a minha rebeldia
nos mergulhos inconsequentes
que a minha impetuosa adolescência permitia…
Passaram pela estrada do tempo, os dias,
os meses e tantos e tantos anos,
voltei àquele lugar, ao mesmo cenário de outrora,
para ver novamente o sol,
que me pareceu diferente ou talvez não,
diferente estaria eu, certamente…
E mergulhei os meus pés agora, cansados e rugosos
naquelas mesmas águas…
Não! As águas não eram as mesmas
estas sim, estavam bem diferentes,
não tão límpidas, nem sequer tão cálidas,
como aquelas que me conheceram por imensos anos!
A tristeza fez-me rolar duas lágrimas pelo rosto,
a saudade do outro meu tempo apertou-me o peito,
meu coração chorou e minha alma suspirou…
Continuei a olhar, de olhos húmidos
aquele pôr do sol da minha memória,
e quando ele se escondeu do outro lado do mundo,
sorri ao mar, suspirei longamente,
enchi o peito de ar fresco
que me chegou sereno nas asas da brisa,
levantei-me, caminhei de retorno a casa
e chorei desoladamente a perda daqueles amores,
companheiros da minha vida!
A vida é de uma mutação quase irritante,
numa insistente permanência dos piores instantes
em detrimento dos mais belos momentos de felicidade.
José Carlos Moutinho
terça-feira, 10 de novembro de 2015
Já não sei escrever
Já não sei escrever poemas,
um vendaval levou-me o
inventar metáforas,
voaram com as folhas secas
do outono matizado...
Agora,as minhas palavras
caem fundo,
bem fundo como corpo inerte
em charco escuro,
o vento sibila-me vozes taciturnas
e sufoca o silêncio da minha
alma
nesta solidão, que me tolhe
os pensamentos...
Já não sei escrever palavras
de encanto,
nem tampouco sei as cores
das flores
e menos ainda, se o sol me
ilumina ou escurece…
Só sei que o luar me esmorece
e torna-me bruma de uma
vontade cansada
por que as palavras
descoloriram-se
na chuva de uma cruel
melancolia,
ausentando-se de mim,
do meu sentir, do meu pensar
poesia,
murcharam as flores nos
muros do desânimo.
José Carlos Moutinho
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
Sou o que quer meu querer
Sou o sal que me alimenta,
o sol é a energia da minha vida,
sou um ser que do mal, se ausenta
no abraço mostro minha alma despida.
Sou o querer sem o saber contrariar,
sou a emoção da palavra verdadeira,
vivo a vida que me foi dada a aceitar,
serei assim, até à minha meta derradeira.
Jamais serei o que os outros inventam,
vivo a verdade no meu sentir efémero,
compreendo todos aqueles que o tentam
mas ignoro tudo o que não faz meu género.
José Carlos Moutinho
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
Quando eu era um menino
Quando eu era um menino,
Pensava que o mundo era
feito de sorrisos
E que as aves cantavam a
felicidade
E o sol existia para nos
aquecer o corpo
E o luar para nos iluminar o
caminho
na escuridão da noite, onde
se escondiam os medos!
Quando eu era um menino,
Sonhava que no futuro só
haveria amizade
E que em cada amigo,
houvesse um abraço
E em cada abraço, a
sinceridade da fraternidade!
Ah…Quando eu era ainda um
menino…
Vivia um outro mundo, que
não este
E era tão inocente, tão ingénuo
e…sonhador
E agora que deixei de ser aquele
menino,
Sou o desencanto da ilusão
que me invadia,
Despertei daqueles sonhos,
no breu da crua realidade!
O sol e o luar existem por
que a natureza não é humana
Sim, a natureza não se verga
à maldade dos homens
E por isso se fazem
presentes todos os dias…
A amizade que eu sonhara em
menino tornou-se utópica
Existe alguma, é certo, mas
tão escassa
E tantas vezes essa amizade,
mesmo rara, é de falsidade!
Ah…que saudades eu tenho de
quando eu era ainda um menino…
Guardo em mim a nostalgia daquele
outro tempo
Um tempo em que eu, menino,
sonhava…
Agora, resta-me respirar a
melancolia dos dias!
José Carlos Moutinho
6/11/15
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
Pujante natureza
Correm águas serenas
Pelo leito da vida,
Beijam margens terrenas
com vontade despida.
Murmuram no seu deslizar
melodias de saudade,
ao mergulharem no mar
finda sua eternidade.
Agora, na imensidão
do mar, que as abraça,
desfalecem sem acção,
perdendo toda a graça.
Pujante é a natureza
que tanto nos fascina,
tem em si tanta beleza
que a todos ilumina.
José Carlos Moutinho
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
Oh...tempo
Oh Tempo que sufocas
as tardes do meu viver,
traz-me a brisa da acalmia
pois eu não quero sofrer
a toda a hora do meu dia.
Dá-me o aroma das flores,
não a secura da mágoa,
a vida, jardim de amores
pode ser pura com’água
que corre sem pudores.
Quero a tua Primavera
nos dias da minha vida,
ter um amor à espera,
a vida é uma corrida
viver é uma quimera.
José Carlos Moutinho
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Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas
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