segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Louvado sejas, Jesus (perdoa-nos)



Perdoa-nos, jesus 
pela nossa arrogância e hipocrisia, 
pelo cinismo que usamos em cada dia, 
perdoa-nos por contrariarmos 
o que tanto pregaste, 
esquecendo que somos 
todos irmãos, nas suas diferenças, 
perdoa-nos pela nossa falta de humildade 
e pelo excesso de presunção! 

Dois milénios se passaram, 
desde que usaste a palavra da fé, 
mostrando ao mundo que a convivência 
poderia ser simplesmente de paz… 

Perdoa-nos, agora e sempre, 
por termos feito exactamente o contrário, 
transformámos a paz em guerra, 
a harmonia em rivalidade, 
abundância a ignorar a miséria! 

Apesar dos teus ensinamentos 
nada aprendemos, 
ou, talvez, tenhamos desaprendido 
ou ainda, intencionalmente, 
ignorado tudo o que disseste e fizeste! 

Sabes, jesus, todos os anos, 
aqui neste planeta, por onde caminhaste, 
comemoramos o teu nascimento, 
e chamamos de Natal a essa época, 
acontece, em Dezembro, 
e, nesse mês, imagina tu, Jesus, 
aliás, deves ter conhecimento, 
pois és omnipresente, 
toda a gente se transforma… 

Não, não penses que nos fazemos de bons, 
e que usamos a caridade 
como uma excelente forma de confraternizar, 
não…o que fazemos é esbanjar, 
empenharmo-nos, por vezes, para gastar 
gastar, até que fiquemos devedores, 
pois, bem sei, Jesus, 
que pensaste que nos transformávamos 
em cristãos, homenageando-te 
e recordando-te pelo teu sofrimento e dor 
porque passaste 
pois, enganaste-te… 
aliás, não te enganaste, pois tu vês tudo isso… 
e sabes bem que não mudámos nas atitudes, 
mas usamos as palavras, quantas vezes, 
hipocritamente, 
para nos dizermos solidários com quem sofre 
ou morre de fome, 
mas felizmente, nem todos somos assim, 
há quem tenha grandeza de alma e coração, 
para auxiliar ou estar junto de quem precisa! 

Mas, Jesus, não fazes nada, 
para alterar estas coisas… 
devias intervir, fazendo de nós, humanos, 
na acepção da palavra e não deixares 
que nos agridamos uns aos outros, 
em guerras económicas, de vaidade e inveja… 
claro, sei que nada fazes 
para nos mostrares que devemos ser nós 
a ter a decência de vivermos como ensinaste, 
e castigas-nos… 
deixa-me que te diga, se me permites, Jesus, 
fazes muito bem! 

Tens notado, certamente, meu velho amigo, 
que não sou praticante 
da religião que te usa como patrono, 
mas sabes muito bem, isso sabes de certeza 
de que te sou devoto, 
e tento…sinceramente tento, 
não ser muito ausente dos teus ensinamentos, 
pois conto ter a felicidade 
e a grande alegria de te conhecer! 

Até um dia, jesus e, por favor, 
tenta perdoar-nos, sei que o farás, 
aceita o meu abraço espiritual. 

Louvado sejas, Jesus! 

José Carlos Moutinho 
Dezembro/2019


domingo, 8 de dezembro de 2019

Fosse eu brisa

Nunca sonhei

Nunca sonhei ser poeta, 
comecei a escrever por acaso, 
jamais fiz disso uma meta 
foi opção sem nenhum prazo 

Comecei, porém, muito novo 
a fazer das palavras, poesia, 
eu era a simplicidade do povo 
não podia pensar em tal utopia

Depois, os amigos apoiavam 
dizendo que eu escrevia bem, 
pensei até que me enganavam 
porque me achava tão aquém

Escrevi coisas que eliminei 
de que tanto me arrependo, 
poemas que eu nunca achei 
terem algum valor provendo

Muitos anos passados, retornei 
tal navegador nas descobertas, 
timidamente, poemas inventei 
deixei minhas emoções libertas 

Hoje não sei se poeta eu sou 
nem isso sequer, me importa, 
sei que sou feliz a escrever 
porque a escrita me conforta 

José Carlos Moutinho

Viana do Castelo

sábado, 7 de dezembro de 2019

Intrigas

Agitaram-se as vontades de inverno
quando naquela tarde se encontraram,
ausentara-se o ambiente fraterno,
perdido da amizade que os marcaram

Intrigas, maldade, voz sem razão,
que em desavenças se vão transformar,
perde-se a amizade morre a emoção,
é esquecido um passado exemplar

Assim é a vida, estrada sinuosa
com obstáculos para ultrapassar,
fugindo sempre de gente ardilosa…

Então, se deste modo procedermos,
certamente a paz vamos encontrar
e com felicidade viveremos!

José Carlos Moutinho
1/12/19

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Abracei-te

Falei-te do tempo ido
e naquele beijo fugidio
que te dei inesperadamente,
sorriste-me de olhar vazio,
havia em ti, uma nuvem translúcida,
que te toldava, certamente,
as recordações...

eras uma sombra do que foste,
emocionei-me, entristecido
por tal visão,
segurei tua mão, fria, esmorecida,
abracei-te,
choraste convulsivamente...

fiquei abraçado a ti,
sem horas contadas,
deixei-me esquecido no tempo,
tentando segurar-te as emoções
em desatino

José Carlos Moutinho
6/12/19



AS MINHAS DESCULPAS

Muitos amigos que vivem em Angola, têm-me pedido livros.
Infelizmente, não tenho como solucionar esse desejo que seria, mais ainda, meu.
Não tenho nenhuma editora/distribuidora que o pudesse fazer. Sou tão pequeno que não me vêem...
Por isso, amigos, lamento.
Fiquem com o meu abraço!


quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Montanhas se alevantam

Ai, este meu sentir desassossegado
que me leva a voar sobre a esperança
espreguiçada por verdes vales,
chamando-me à serenidade... 


porém… quando me proponho corresponder
àquele chamado…

logo, altas montanhas se alevantam,
imperiosas e altaneiras,
obstruindo o meu agitado propósito,
forçando-me refrear
este meu inquieto voar,
quando me preparava, ousadamente
a sobrevoá-las...

de imediato, volto a sentir
uma profunda e frustrante agitação… 


retorno, desiludido e derrotado
ao chão negro e frio
dos meus pensamentos

José Carlos Moutinho
4/12/19



segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Asa de vento


...
Sou asa de vento
frágil, como a própria vida
voo, porém, a contento
sempre de maneira contida

José Carlos Moutinho
2/12/19

domingo, 1 de dezembro de 2019

Caminho matizado



Passeio sobre folhas matizadas pelo tempo ido,
e sinto murmúrios de saudade
de um verão que já se foi...

há em cada folha pisada, um gemido,

ou talvez seja um sorriso,
de missão cumprida perante a natureza,
que eu, quase indiferente,
vou pisando implacavelmente...

olho os ramos nus das árvores despidas,

e deixo-me absorver pela sua frialdade
que, certamente lhe é agradável
mas que me arrepia,
levando-me a pensar que tudo é um ciclo,
neste mundo tão belo e desconhecido...

há a chegada, a viagem e o término,

ou talvez seja outra chegada
a outro espaço igualmente desconhecido...

José Carlos Moutinho

1/12/19

sábado, 30 de novembro de 2019

O olhar

O meu olhar perde-se
pela estrada da desesperança,
agora, cansado, remete-se
a uma quietude de bonança

Perdeu o brilho de um certo tempo
pela ausência de outro olhar,
resta-lhe um triste lamento
magoado por não saber brilhar

Talvez um dia, surja uma luz
que faça o teu olhar cintilar,
nem que eu peça a Jesus.
para voltar a sentir teu amar

José Carlos Moutinho
30/11/19

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Vento que passa

Que vento este que passa
assim agitado e tão cansado,
grita a tristeza que o perpassa
na dor que sente ao seu lado

Eu que não sou vento, sinto
palavras vestidas de sombras,
sou assim e jamais desminto
não gosto de muitas delongas



terça-feira, 26 de novembro de 2019

Desabafo (o meu tempo)

O meu presente já não dá esperança aos meus sonhos; talvez por eu não ter tempo para os ver realizados ou porque acha que não devo mais sonhar. Este é um pensamento que, frequentemente, me esmaga os anseios, mas que, todavia, tenho de o entender como imposição temporal à qual, inexoravelmente não me posso escusar.
Confesso que, por vezes, me irrita esta situação de me sentir limitado pelo tempo que cerceia os meus impulsos; tento repudiá-lo, mas ele, tempo, cola-se aos meus movimentos e até bloqueia, de algum modo, o meu modo de pensar.
Admito que, tento repelir, resiliente e obstinado, essa limitação. Então, para contrariar a implacabilidade do tempo, escrevo, escrevo...e, faço-o até, de maneira compulsiva, como se receasse que o meu tempo de repente se lembrasse de me cortar essa febril vontade de escrever.
Sonhador ainda, sentimento que me vem da juventude, faço com as minhas palavras escritas, livros; edito-os, talvez, a um ritmo que confunde os meus pares, pois escuto as críticas e suas ausências aquando dos lançamentos ou apresentações. Ausências que, a cada ano, se vão tornando mais prementes, por razões, algumas, que penso conhecer. 


(Criticar é fácil se, eventualmente, não se consegue o mesmo ritmo de edição literária ou o modo de actuar em relação à divulgação dos livros)

O sonho que há em mim é o meu presente, que tem de ser realizado hoje; é, precisamente, esse sentimento que passa despercebido ou é desconsiderado pelos meus companheiros das palavras escritas, que também, como eu, sonham, só que, têm, pela lógica da idade, mais tempo para as suas realizações.
Eu, simplesmente tenho pressa, porque o meu tempo é urgente!

José Carlos Moutinho
26/11/19

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

És brisa

...
És a brisa que me afaga
nos silêncios da minha solidão
és prazer que jamais acaba
neste meu sentir feito de ilusão
que na noite que tarda
se faça alvorada de emoção

José Carlos Moutinho
25/11/19

Amor à primeira vista (Áudio)


Booktrailler de "A FORÇA DE AMAR"

Palavras vagabundas

Deixem-me falar das palavras vagabundas
que, na solidão do meu quarto,
partiram de mim,
cansadas da escuridão, das janelas fechadas
como desejavam ser livres,
abandonaram-me, partindo para lugar incerto,
fiquei só, pensativo e vazio das companheiras
que me alimentavam a alma

agora, resta-me esperar que voltem,
talvez, até, nem me encontrem mais,
porque, também eu, cansado,
tenha partido em busca delas

se, porventura, não as encontrar,
tentarei então, convencer-me
de que as palavras, certamente,
não se querem prender a mim

José Carlos Moutinho
23/11/19

sábado, 23 de novembro de 2019

Palavras vagabundas (Áudio)


Versos enregelados

Vou aconchegando os versos
em ninhos de sorrisos,
esperando que o frio se vá,
para que os versos,
com penugem de metáforas,
possam levantar voos aleatórios,
amparados, porém, pelas folhas de papel
que se prendem a algum hipotético
livro de esperança,
voem, sorridentes,
até às mãos,
de quem goste de os ler,
expectantes por escutarem
alguma melodia de apreciação!

Enquanto isso não acontece,
a cada dia, mais versos se aninham
junto dos já aconchegados
pelo hiato de espera,
e cantam ilusões, em rimas desatinadas,
tentando fazerem-se estrofes
num ensaio sem tempo

José Carlos Moutinho
20/11/19



sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Brisas

Abraço as brisas que passam
num repentino desejo de as afagar,
porque, com as brisas, perpassam
odes ao amor que se quer cantar

E se as brisas se escapam de mim
fica-me uma inconsolada frustração,
talvez receie que suas asas de cetim
se quebrem com a minha emoção

José Carlos Moutinho
22/11/19

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Aquele Fontanário


Não pude evitar a tristeza,
quando certo dia,
ao passar pelo local 
onde tantas vezes estive
e ver o estado decrépito
de morte atroz e lenta
daquele velho fontanário,
seco pelas amarguras do tempo,
que há muito, certamente,
deixou de debitar a cristalina água
que saciou tanta gente!


Olhei para o esqueleto daquela fonte,
emocionei-me, ao pensar
em quantas alegrias participou…
e que tantas foram as mágoas
choradas nas águas 
daquele fontanário, solidário!


Sentei-me nas pedras corroídas
pelas memórias dos amores 
que o fontanário conheceu,
dos segredos que lhe foram partilhados
e guardados na eternidade do seu silêncio,
das paixões exaltadas, 
abençoadas pelo fio de água
que deslizava pela sua airosa boca, 
e esfriava os ímpetos exacerbados dos amantes!


Agora, aquela fonte morria, 
inexoravelmente,
abandonada por todos…
ela que acolheu tantas confidências,
de paixões proibidas,
de promessas matrimoniais,
de desavenças descontroladas…
jazia ali, num silêncio constrangedor,
cercado por ervas daninhas,
num total e doloroso abandono!


Ah, tristeza…
Monumentos que se fizeram marcos,
onde os sentimentos foram vida, 
felicidade, paixão e amor,
acabarem assim…
como coisa inútil e insignificante…







José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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