sexta-feira, 4 de setembro de 2015

As marés eram sorrisos





Os dias empalidecem nos suspiros do entardecer,
Voam secos os ventos soprados pelo desatino,
O sol esconde-se nas mágoas do atroz viver
No horizonte, a linha traça qualquer destino.

Sobre o mar encrespado pelas ondas da vida
Espargem maresias dos instantes perdidos
Temperando com dureza a saudade sentida
De quando as marés eram sorrisos sentidos.

Mas os mares em permanente marulhar
Inventam versos das profundas entranhas
Em canções de coragem a quem o navegar
Com velas hasteadas ou por forças estranhas.

Tal como este navegar por mar desconhecido
É o longo caminhar pelas estradas castigadas
E acinzentadas, por ruelas e becos sem sentido
Quando do desejar nascem recusas soluçadas.

Talvez, quando a alvorada despertar o amanhecer
Traga a luz da esperança que ilumine a amargura
Que durante a noite se acoitou na escuridão do sofrer,
Acabe com a infelicidade e dê à vida mais brandura.

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Relógio do tempo





O tempo voa e não tem asas,
fenómeno estranho que ninguém entende,
quero aquietar-me no meu tempo sereno
e do relógio do tempo que me arrasta como louco
por caminhos que ainda não quero percorrer!

Talvez com mais tempo,
eu goste deste tempo que corre veloz,
e de lá, do fim do meu tempo
possa olhar para trás e rir-me
da correria deste tempo desvairado
que me arrastou, ainda que não tivesse asas
mas sim tinha a força do vento.

José Carlos Moutinho

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Entre canaviais





Vagueio meus sonhos por entre os canaviais
De onde me sopram utopias em oscilantes abraços
sigo caminhos que me são iluminados por sinais
renovo minhas forças esquecendo meus cansaços

Deixo meu olhar seguir o voo incerto da borboleta,
fascina-me o bater das suas asas, de belas cores
e à minha mente, surge-me a vontade de ser poeta,
ai, se o fosse, seria tão bom poetar os meus amores.

Bem sei que são quimeras desejadas e não obtidas,
sonhar é enlevo que  inflama a nossa inocente alma,
deixar o coração vibrar e iludir-se em paixões sentidas
faz com que nosso corpo encontre ou não, sua calma.

Caminho pelos trilhos da vida, imbuído de ilusões,
sorrio para o sol que me aquece os pensamentos
por que depois, no empalidecer das minhas emoções,
não me restará mais tempo para viver sentimentos.

José Carlos Moutinho

sábado, 29 de agosto de 2015

Um dia farei sonetos





Não sou poeta, mas sei o que valho,
canto com emoção o meu sentir,
sonetos dão muito trabalho
mas escrevo ainda que possam rir.

Métrica, tercetos e quadras,
a tónica na silaba tal,
palavras não são como varas
que se abanam a esmo no varal.

Só por que sou teimoso insisto
em fazer sonetos bem ou mal,
crucificam-me e não sou Cristo…

Mas de uma coisa eu vos garanto,
serei firme como pedra e cal,
sei que um dia eu colherei o que planto…

José Carlos Moutinho


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Amigo, ignora os vendavais





Ignora o silvo do vento que te sopra de viés,
Aceita a brisa que te acaricia com suavidade,
Acredita que tudo o que acontece a teus pés
Não prova que teus afectos perderam validade.

Temporais são sustos molhados, arrufos do tempo,
Amizades sinceras são raízes profundas e perenes
Que florescem até, sobre pedra do desentendimento,
Por que as verdades são caminhos iluminados e indenes.

Que em cada abraço haja um sorriso  real de afecto,
Pois na dor e na tristeza, a amizade é a perfeita cura
Ainda que o sentimento tenha um colorido discreto,
É pela paleta de amigos, que a tela eternamente dura. 

Assim amigo, olha para quem te vê de olhos abertos,
Num olhar sem brilho, há ventania que te causará dor,
No caminho dos vendavais encontras males dispersos,
Pelas alamedas floridas da vida, receberás sempre amor.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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