sexta-feira, 3 de abril de 2020

Sou tão pequeno

Olho-me e vejo-me tão pequeno 
e quando contemplo a rua vazia 
tento manter este meu ar sereno 
enquanto invento alguma poesia 

O que somos nós, seres falantes 
se nossa fragilidade é marcante, 
houvesse, pois, menos pedantes 
este mundo seria mais fascinante 

José Carlos Moutinho 
3/4/2020

Só porque gostaria...

Gostaria mesmo de acreditar
juro que adoraria ver o acontecer
que os poderosos deixassem de errar
para que a humanidade parasse de morrer

Juro de verdade que gostaria 
de ver os arrogantes donos do mundo
vestidos democraticamente de filantropia
para que acabasse este sofrimento profundo

José Carlos Moutinho
3/4/2020

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Amo a vida (Áudio)

Amo a vida

Olho o vazio que me cerca,
interrogo-me se vivo noutro planeta,
o silêncio confunde-me os pensamentos,
divago sobre o bem e o mal,
ignorando a razão das calamidades
e volto a interrogar-me do seu valor
e do seu interesse em provocar tanta morte!

Sinto-me frágil e desalentado 
ao viver momentos tão surreais
como se filme de Spielberg se tratasse,
as ruas desertas oprimem-me as vontades,
há um deserto em mim
de areia movediça, 
onde, porém, imbuído de esperança
vislumbro o oásis próximo!

Quero fugir deste terrível sonho 
sonhado de olhos bem abertos,
quero voltar a abraçar gente,
aspirar o ar, que agora, pela fatalidade 
se tornou mais puro,
anseio ver o mar,
deixar-me navegar 
pelo infinito do meu tempo
no seu dorso cintilante de sol!

Desejo poder viver em plenitude
o que antes escusei viver,
sem estas amarras virais
que me roubam a liberdade!

Quero voltar a ser, simplesmente,
um humano, com todo o meu direito,
agora prejudicado 
por razões que desconheço,
ou, quiçá, pela ganância 
de outros humanos!

Quero somente viver
e gritar ao mundo que amo a vida!

José Carlos Moutinho
2/4/2020

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Nostalgia

Ontem ao assistir a um programa passado na RTP África, fui invadido por uma onda nostálgica.
Referia-se a um raid efectuado por portugueses/angolanos, feitos em carros, Ford, creio, cedidos ou pelo menos patrocinados pela Robert Hudson.
Partiram não sei de onde até ao Luau, depois vieram por Camacupa até ao Bié...e foi, precisamente nessa estrada vermelha de terra batida, que eu me vi, há uma porrada de anos perdidos no tempo, exactamente num local específico, onde a estrada caprichosamente descia, com ligeira inclinação à esquerda, logo imediatamente na base, constituída por um vértice, subia, inclinando-se à direita.
Vi-me ali, no meu VW carocha a descer aquela estrada de acelerador a fundo e no fim dessa descida, engrenar a 3ª velocidade e acelerar como se de um Porsche se tratasse, mas que eu exigia ao meu carrinho, tentando dar-lhe a genica do possante Porsche.
E não é que o meu carocha reagia bem aos meus anseios de grandeza automobilística...
Teria eu os meus atrevidos e ousados 24 anos, repletos de coragem, sonhadores e aventureiros.
Senti-me bem naquela visão oferecida pela reportagem.
Senti o perfume de Angola em mim. A saudade é como a vida, só nos larga...um dia!

1/4/2020

1 de Abril, dia da verdade

É mentira o que se diz
ou será a razão a desatinar,
hoje é um dia que ninguém quis
porque a verdade é de assustar

1 de Abril será dia de reflexão
a juntar aos dias passados,
vivemos momentos de emoção
esperando por dias alegrados

Hoje a mentira é grande verdade
de um tempo para esquecer,
se sentirmos esta realidade
em isolamento, esperemos vencer

José Carlos Moutinho
1/4/2020

terça-feira, 31 de março de 2020

Clausura

Quero fugir desta imposta clausura
que me amarra os movimentos,
se eu pudesse fugia pela fissura
da janela dos meus sentimentos

Quero liberdade para ir ver o mar
saber do horizonte,sentir a maresia,
anseio para que tudo isto vá acabar
antes mesmo que me acabe a poesia

José Carlos Moutinho
31/3/2020

segunda-feira, 30 de março de 2020

Da janela vejo a rua

Olho pela janela da minha sala
deixo meu olhar viajar pela rua
tão deserta e minha alma se cala
possuída por emoção assaz crua

Por onde andará a gente de antes
que apressadamente ali passava
agora nem carros nem andantes
tal silêncio que agora se escusava

Deixo-me levar pelo pensamento
numa viagem triste, tão solitário
há em mim um certo sentimento
ao pensar a razão deste calvário

Esperança, claro, esta não faltará
lamentamos tanta e tanta morte
sabe-se lá quanta mais ainda virá
se os infectados não tiverem sorte

Com coragem e luta, vamos vencer
o povo a respeitar e outros a lutar,
os profissionais da saúde, sem temer
Sofrem para outros, poder salvar

Daqui da vidraça da minha janela
presto a minha homenagem singela
aos que, silenciosamente são heróis
e neste escuro se fazem nossos sóis

José Carlos Moutinho
30/3/2020

Sonho improvável

Despertei hoje de um belo sonho
não daqueles utópicos de costume,
não tinha sequer cara de medonho
mas sim o aroma de um perfume

E com o sonho senti forte emoção
pois nele fiquei a saber da graça,
que o drama era uma simples ilusão
que viera sem desejar ser desgraça

José Carlos Moutinho
30/3/2020

sábado, 28 de março de 2020

Momentos de reflexão

Ruas tristes, despem-se de gente 
no ar paira o silêncio do medo, 
há uma inquietude que se sente 
que a todos assusta, sem segredo 

O sol continua com sua missão 
iluminando a tristeza do momento, 
a Primavera desconhece a razão 
para tanto descontentamento 

A vida vai-se equilibrando na sorte 
Que, para tantos se faz ausente 
nesta calamidade que leva à morte 
na infelicidade de imensa gente 

Que o Verão que vai chegando 
traga calor intenso de esperança, 
a tristeza que nos vai cercando 
precisa rapidamente de mudança 

Estas tragédias são passageiras 
todos pensamos saber e entender, 
são inimigos de todas as fronteiras 
juntos temos todos que os abater 

José Carlos Moutinho 
28/3/2020 

sexta-feira, 27 de março de 2020

Calemas

Para quem não tem possibilidade de obter o livro físico, tem a opção do digital (e-book)

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565 MONDIM DA BEIRA-4kTarouca de José Carlos Moutinho-coletânea-António ...

568 VISITA A TAROUCA-4k de José Carlos Moutinho-Coletânea António Teixei...

Turbilhão do momento

Turbilhão do momento

Queria escrever um poema
com a simplicidade da vida,
um poema que falasse, inocentemente,
das estrelas e do luar
que sempre me encantaram,
do perfume da maresia
que me aromatiza a alma,
que falasse também, das coisas boas
e dos amigos sinceros, 
até mesmo aqueles que se fingem amigos,

um poema tão singelo, como as palavras,
mas...estas escusam-se,
não sei bem se, por medo,
ou por falta de inspiração,

a verdade é que o poema esmorece
no tardio do tempo,
e resguarda-se no recanto da esperança,
ansioso de que as palavras se encham
de coragem e gritem ao mundo
que estão vivas e saudosas da poesia,

até lá, fica este esboço de poema, 
que, humildemente aguarda
que passe o turbilhão do momento

José Carlos Moutinho
27/3/2020

quinta-feira, 26 de março de 2020

Mudanças

As ruas esvaziaram-se,
o asfalto tornou-se mais negro,
a calçada mostrou todo o seu brilho
pela ausência de pés que o encobrisse,

gente que agitava a cidade
estão confinados por precaução,
porque momento é terrível e raro,

o medo é muito,
a inquietude, pavorosa,
os corações fremem,
a angústia sobrevoa o ar que se respira,

a esperança é ainda, ténue
mas jamais morrerá,
porque não será um cobarde vírus
que abalará a força humana

com a nossa precaução, 
estando comodamente em casa,
vamos vencer este miserável!

José Carlos Moutinho
26/3/2020

Bom dia, gente

Ainda que a inquietude
esteja presente nestes momentos,
temos de ser resilientes, com atitude
para tentar esquecer os tormentos,
e para quem tem arte e virtude
de criar poemas sem lamentos,
escrever sobre o que veio da longitude
é um modo de luta, com argumentos

José Carlos Moutinho
26/3/2020

quarta-feira, 25 de março de 2020

Atitude

...
Trilhamos caminhos do medo
nestes momentos de inquietude
não seremos jogados no lajedo
se isolamento for nossa atitude

José Carlos Moutinho
25/3/2020

Vulneráveis

O que somos nós, 
pobres viventes, 

se não simples passageiros 
nesta terra de dores e encantos, 
tão frágeis como suspiro 
tão arrogantes como vendaval?

Ai, se conseguíssemos parar e pensar 
um pouquinho só, em cada dia, 
entregarmo-nos à nossa insignificância 
e reflectir do que vale a pena 
para que se viva, minimamente feliz...

não...preferimos 
correr em desatino, 
buscando o improvável, 
num anseio desmedido, 
por vaidade, poder 
e protagonismo!

Somos, porém, 
tão...tanto e tão nada, 
poderosos e de fragilidade efémera, 
génios do bem e do mal, 
famosos e desconhecidos, 
presunçosos e humildes,

quem somos afinal, 
se não vulneráveis seres 
que sucumbem perante 
um invisível vírus? 

José Carlos Moutinho 
25/3/2020 

Proibido o plágio 
ao abrigo do Decreto-lei nº 63/85 
dos direitos de autor

terça-feira, 24 de março de 2020

Saudades


Reflexão minha

Na calamidade...
cala-se a arrogância
despe-se a vaidade
anula-se a presunção
une-se a humildade

se na calamidade...
fosse obrigatório 
a humanidade humanizar-se...
talvez a calamidade fosse útil,

assim, como nada se altera 
na humanidade
que desapareça a calamidade

José Carlos Moutinho
24/3/2020

Saudades

Tenho saudades 
dos parceiros tertulianos, 
dos anónimos que passam nas ruas, 
do bulício da cidade, 
e especialmente 
dos amigos que sei serem!

Tenho saudades 
daqueles que me acham arrogante, 
dos que me olham com despeito, 
daqueles que me criticam pelas minhas costas 
e especialmente 
de todos os que gostam de mim!

Tenho saudades 
da convivência com gente, 
de aspirar a maresia, à beira mar, 
do abraço apertado 
e até daquele abraço flácido, 
quase inerte! 

Tenho saudades 
das conversas amigáveis, sem vírus, 
dos sorrisos sinceros, 
das palavras de amizade 
e do tempo mais salutar que o actual 

José Carlos Moutinho 
24/3/2020

domingo, 22 de março de 2020

Tu aí

Tu que te vestes de indiferença 
perante os teus semelhantes, 

olha em tua volta, 
desperta para a realidade 
e pensa, com franqueza, 
se a tua pose bacoca 
tem algum valor 
perante a calamidade 
que nos atormenta... 

Já pensaste? 
Então desce desse teu pedestal oco, 
e entende que ninguém 
é mais que alguém 
somos todos tão frágeis, 
tão passageiros 
como o próprio vento!

Nada trouxemos, nada levaremos, 
ficarão para a eternidade 
a dignidade e as obras,
essas terá sido a importância 
da tua presença 
neste mundo de desvarios

José Carlos Moutinho 
22/3/2020

sexta-feira, 20 de março de 2020

Tempos de inquietação

Democraticamente a liberdade 
foi, provisoriamente, cerceada, 

e porque a cidade dorme 
o medo passeia-se provocador 
pelas ruas desertas 
tentando insinuar-se perante os mais frágeis 
que, resilientes enfrentam provações,

o silêncio produz um som estranho, 
que penetra insistentemente, os pensamentos 
transformando-os em onda simbiótica 
de acalmia, inquietação 
e muita esperança, 
imbuídas numa profunda fé!

E a cidade, apesar de a alvorada 
ter nascido há algum tempo, 
mantém-se em sonolência, 
só o medo continua a vaguear pelas ruas, 
agora menos desertas, 
saudosas do bulício!

Há no ar uma invisível nuvem 
de solidariedade e humanização, 
levando, certamente a muita reflexão, 
que, infelizmente, acabará, 
talvez, quando a cidade acordar 
e a desumanização retornar!

José Carlos Moutinho 
20/3/2020 

Proibido o plágio 
ao abrigo do Decreto-lei nº 63/85 
dos direitos de autor

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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