segunda-feira, 6 de abril de 2015

Amarras




Doem-me as mãos doridas pelas amarras,
Que esta vida louca me inflige a cada dia,
São emoções sentidas nas dores caladas
Por desilusões que eu há muito não sentia.

Corre o vento em desabrida acutilância,
Sopra as águas calmas daquele meu rio,
Agita-as num frenesim de intolerância,
E penetra-me a alma num gélido calafrio.

José Carlos Moutinho

domingo, 5 de abril de 2015

Eu e o meu pensamento



Só por que me apetece
escrevo palavras desconexas
neste papel branco inerte,
pouco interessa se são coisas banais
o que o meu pensamento inventa!
Alheio-me ao que pensam e dizem
por que sou dono do meu pensamento,
ou quiçá, o pensamento me domina,
faço das palavras o que eu bem quiser!
Critiquem, riam-se, desvalorizem
isso pouco me afecta
por que as palavras são minhas,
meu pensamento só a mim obedece
e ele, a vós ignora-vos na vossa vontade
de entrarem no seu domínio
que somente a ele pertence!
O meu pensamento é rei,
dominador da imaginação,
criador de utopias
ou de ridículas quimeras…
Pode inventar mar em pleno deserto
dar vida à folha seca
imaginar flores em arco-íris,
se desejar, será brisa que tudo arrasta,
ou tempestade de acalmia!

O meu pensamento é sereno,
por vezes louco, outras vezes apaixonado
e tantas vezes irritado!
Sim…Irritado com o que sente à sua volta
e eu…pobre de mim,
escusa-me a força para o acalmar
e tenho de o seguir pelos ventos da tristeza
arrastando-me pelos céus da revolta,
e grita…grita como possesso
que se quer libertar…
diz-se saturado de tudo,
não suporta mais tanta injustiça…

E olha-me provocante,
que não quer mais, estar em mim!
Assusto-me…
Mais que assustado, estou apavorado
que farei eu, sem o meu pensamento!?
Suplico-lhe que não saia de mim,
entramos em conflito, discutimos…
lentamente acalmo-o, continuaremos juntos,
ainda que entremos em controversos desvarios,
quero-o sempre comigo!

Jamais poderei viver sem a inquietude
do meu pensamento, essência de mim.

José Carlos Moutinho

sexta-feira, 3 de abril de 2015

O poema e o fadista





Canta com voz magoada
o fado em tom de balada
do poema que o poeta fez,
trina a guitarra amiga
viola segue a cantiga
a melodia toma vez.

O fado é a alma do poema,
do poema nasce o tema
solta tua voz, fadista
enche a sala de emoção
com a letra da canção
mostra tua veia artista.

Eu que fadista não sou
e às palavras não me dou
escuto fascinado
a voz do poema cantado
que na minha alma poisou
e me deixou enlevado.

José Carlos Moutinho

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Choram as tardes





Não sei por que me choram as tardes
que me envolvem de inquieta melancolia
e forçam meu olhar a colar-se nas folhas secas
que lá fora se agitam, também elas inquietas,
num desassossego estranho e perturbado.

Não sei por que me chegam esmorecidos
os translúcidos raios do sol que se afasta
acinzentando meus pensamentos perdidos,
roubando a alegria que em mim se arrasta.

Talvez com o luar, a minha alma se alegre
e possa serenar a agitação que me domina,
resfrie o calor que de mim se solta em febre
e me faça ausentar desta minha triste sina,
iluminando o deserto árido plantado em mim
aquietando minhas ânsias num oásis de jasmin.

Olho as árvores que vão oscilando suavemente,
escuto os pássaros em voos de doce melodia,
no meu peito bate meu coração em acalmia
minha essência sorri-me em paz alegremente…
Será algum milagre e fui enlevado por quimera
ou talvez seja o perfume das flores da Primavera

José Carlos Moutinho

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Olho a rua da minha janela





Debruçado na minha janela
ouço as vozes dos que vão passando,
gente elegante, gente singela
com pressa que o tempo vai tomando.

Entardece no sol que esmorece,
lá em baixo a rua vai esvaziando,
vai-se o sol na noite que aparece
calam-se as gaivotas esvoaçando.

É a cidade na sua diária luta
sem tréguas, em constante disputa,
a cada dia é um novo e insano lutar…

Há que ser herói neste turbilhão
Dos fracos não reza a história, não,
Esses sequer recebem um olhar…

José Carlos Moutinho

terça-feira, 31 de março de 2015

Escuta, irmão





Quem és tu, irmão
que me sorries e me abraças
e me atraiçoas descaradamente?
Será que sou eu que não entendo esta realidade
que me afecta os sentidos e me perturba…
Ou serás tu que te perdeste
pelos caminhos do desiquilíbrio
e fizeste da harmonia cívica
um coisa de somenos importância?

Preocupa-me, irmão
que as coisas tomem este rumo
e te leve à perda de valores
que humanamente deveriam estar presentes
em cada um de nós!

Vejo com tristeza que cada vez mais,
são menos os que caminham
lado a lado na esteira da amizade,
preferindo dar prioridade
aos atalhos de conflitos
e desatinos exacerbados
quiçá, por despeito ou inveja!

Tem calma, irmão
concentra-te na verdade
e pensa, se para ti é benéfica essa atitude,
que afinal só pode servir teu ego
mas que te cria atritos
com quem te quer bem!

Conta comigo, irmão
no abraço sincero da humildade
e nas palavras que te digo
na ânsia de que entendas
a verdade coerente da razão.

José Carlos Moutinho

Entrevista com Planeta Azul, editora de Calemas

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